Modelo II/ RN

“No silêncio da madrugada a marcha avança lentamente e para em frente a terra sonhada . Um grande silêncio foi interrompido pelo grito : “reforma agrária já !” E a foice que já havia cortado tanta lenha em terras alheias abre portas da nossa terra .A cerca se abre , acolhe os filhos sedentos de justiça . A terra é de quem nela trabalha, só Deus é o dono da terra. Era uma hora da madrugada, mais ou menos 400 famílias ocupam a fazenda improdutiva do sr. José Arnor, em frente do Assentamento Marajó. O povo, com a maior alegria de estar na terra, começou a trabalhar para construir suas barracas. Uns foram tirar os paus, outros estendiam as lonas, uns cavavam os buracos. Enquanto isso, as mulheres buscavam varas e lenhas. De repente, no meio daquele verde onde eram matas, de um lado e do outro vai surgindo no meio do verde as barracas de lonas em algumas horas. O que era um nada vai se transformando em acampamento pelas mãos dos trabalhadores. Mas a alegria dos trabalhadores durou pouco tempo. Veio o primeiro despejo. A saída foi negociada pelos policiais, que deram quarenta minutos para desocupar a área .Os trabalhadores saíram. Não houve conflito e foram para a pista. No começo, os acampados não passaram muita fome porque cada um tinha trazido alimentação de suas casas. Novamente construíram suas barracas de lonas, organizadas em fileiras. Os trabalhadores sofriam muito com a discriminação da população que passava na pista. Os chamavam de vagabundos, preguiçosos e de ladrões. Mas os acampados tinham a consciência limpa. Unidos que eram, não se deixaram abalar com aqueles comentários e chateações maldosas. O prefeito de João Câmara, José Ribamar Leite, deu trabalho aos trabalhadores que estavam nas barracas. Era em Serra Velha. Iam e vinham em um trator. Os trabalhadores sabiam que não era nada disso o que queriam. Para eles, estar ali era o início de um grande sonho, o de poder um dia trabalhar na própria terra. E, para isso, era preciso lutar e conquistar a terra. A água no acampamento era uma dificuldade. Os acampados tinham que ir pegar no Assentamento Marajó, trazendo em vasilhas na cabeça. Mas o importante era a solidariedade uns com os outros. Cada pessoa repartia o que tinha com outras famílias, até mesmo as barracas. Por fim, o último acampamento? que fizeram foi na fazenda Modelo, onde tinha poço tubular, galpões que servia para reuniões e árvores de grande porte. A origem do nome Assentamento Modelo derivou-se a partir da fazenda Modelo, onde os trabalhadores conseguiram a posse de terra a partir dela.”

por Eronaldo Rosa

Perfil da comunidade

Fundada em 1994, a comunidade Modelo II fica localizada a 21 km do município de João Câmara, no Estado do Rio Grande do Norte. A comunidade possui 315 moradores e está dividida em 115 famílias. A população é composta em maior parte por mulheres.

As principais atividades econômicas que a comunidade desenvolve são: a agricultura de subsistência, a criação de animais e o extrativismo mineral. O índice de pessoas que trabalham fora da comunidade é baixo.

Os alimentos produzidos na comunidade são: feijão, milho, mandioca, abóbora, melancia, frutas e hortaliças.

A comunidade possui alguns bens coletivos como a sede de reuniões, poços tubulares, áreas coletivas de plantio de hortaliças e frutas, projeto musical Filarmônica, forrageria, cocheira de animais e alguns animais (bovino).

Modelo II possui escola de com ensino da 1ª à 4ª série e projeto de incentivo a leitura Arca das Letras.

O acesso à internet na comunidade é feito por meio do Telecentro que funciona regularmente.

A saúde dos comunitários é tratada pelo programas Saúde da Família, dispõe também de atendimento odontológico e acompanhamento de agentes de endemias e de saúde.

A água é fornecida diariamente pela rede pública, além deste recurso, outros são utilizados para suprir o consumo diário assim como poços e carros-pipa. A maioria das casas possui cisterna para armazenamento de água.

Os programas sociais que atendem à comunidade são: o Bolsa Família, o Programa Mais Alimentos e o Programa Garantia Safra.

OBSERVAÇÃO: informações extraídas do diagnóstico comunitário participativo, aplicado na comunidade em julho de 2015.

Fotos: Dammy Santos